Prisão agrícola

Uma vez um rapaz bateu à porta de minha casa à 1 da manhã para pedir um prato de comida. Meu marido disse a ele que não havia comida àquela hora e que fosse embora, e começaram a discutir. Num dado momento meu marido ameaçou-o dizendo que se não fosse embora chamaria a polícia.

Sua resposta deixou meu marido indignado, mas traduzia mais ou menos o que muitos presos pensam:

– Pode chamar, cadeia pra mim é hotel.

Assim como ele, muitos que lá estão não se incomodam em perder sua liberdade porque têm casa, comida e não precisam trabalhar nem pagar aluguel. Quem recorreu à vida criminosa dificilmente é alguém que goste de trabalhar e que sinta vergonha de lá estar. Muitos encaram o fato de estarem na cadeia como uma fase natural e passageira da vida, sem a menor importância.

O fato de estarem lá dentro não os faz pensar, já que sentem-se confortáveis. Lá dentro respeitam as leis da prisão mas quando saem a primeira coisa que fazem é desrespeitar as leis da sociedade. E respeitam as leis da prisão porque se não o fizerem sabem que o resultado não será nada confortável.

Acredito que o fato puro e simples de ficarem presos durante algum tempo não irá ressocializar a maioria deles, que voltarão ao crime assim que se virem novamente em liberdade. Creio que para haver uma total reabilitação o detento precisa de uma profissão e de sentir o prazer de ganhar seu próprio sustento sem ser de forma ilegal e sem ter que viver à margem da sociedade.

Também a prisão tem que ser um lugar para onde não queiram voltar. Já disse aqui que dentro da prisão a escola teria que ser obrigatória e suas penas não serem contadas em anos, mas em estágios dentro da escola. Também já disse que depois de preso a ficha criminal só poderia ser acessada pela polícia e Poder Judiciário, para a sociedade de modo geral ela apareceria limpa, uma vez que já pagou pelo que fez. Dessa forma ficaria realmente livre o detento para voltar a trabalhar sem ser discriminado por um dia ter cumprido pena.

Dentro da cadeia teria que trabalhar, e defendo uma prisão agrícola onde mesmo o detento com curso superior teria que dedicar no mínimo 8 horas de seu dia à lavoura e apresentar produção. Dessa forma poderiam produzir seu próprio sustento, e comeriam só o que produzissem, o que excedesse seria vendido a baixos preços na comunidade, para pessoas de baixa renda.

Imagino que dessa forma o detento sairia de lá não 100% reformado mas pelo menos com uma boa chance de ter também a opção de uma vida dentro da lei.

Leia também: A penitenciária-escola

Indulto de natal

Uma das coisas que eu não entendo é porque todo ano tantos presos são liberados no natal, sendo que em vez de aproveitar para passar o natal com a família, uma grande parcela deles aproveita para voltar à vida criminosa e nem retorna à prisão.

Eu morava até poucos anos atrás numa pacata cidadezinha com 10.000 habitantes, só que havia 2 presídios lá. Uma amiga de minha filha voltou a morar lá depois de morar vários anos em São Paulo, com fama de ser tão perigosa.

Pois por uma ironia do destino, um grupo de detentos que havia saído no indulto de natal não só roubou seu carro como também a agrediu, e só foi pego 40 km  e dois assaltos depois. Tantos anos morando em São Paulo e nada lhe havia acontecido, foi acontecer numa cidadezinha pacata do interior.

Creio que os critérios para que os detentos pudessem usufruir dessa regalia deveriam ser mais rigorosos para evitar que a população ficasse à mercê de mais esses bandidos, que deveriam estar atrás das grades ou passando o natal com a família, e não engrossando as fileiras de marginais a colocarem em risco a integridade do cidadão comum.

As normas poderiam ser revistas, tendo em vista que tudo está bem no papel mas na prática o que se constata a cada ano é o aumento da criminalidade na época de final de ano. Exames e avaliações psicológicas deveriam ser feitas para se constatar que o detento está mesmo apto a sair sem colocar em risco seus semelhantes.

Que seja um direito de alguns detentos passar o natal em paz com a família, desde que esse direito não prive os cidadãos comuns de também terem um natal só de amor e paz.

Leia também:

O trabalho como agente reintegrador

A ficha criminal

A penitenciária-escola

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