Profissionalização do detento

Para que alguém que um dia tenha recorrido ao crime consiga sair da cadeia e participar da sociedade precisa sair da cadeia com uma profissão. Não adianta passar lá alguns anos e sair pior do que entrou, além dos vícios que já tinha com mais alguns que aprendeu na cadeia.Em vez de escolar o detento na arte do crime, melhor faria o sistema prisonal se o adequasse para viver quando estivesse fora das grades.

Quando sai o ex-detento é discriminado por já ter cumprido pena e tem que reiniciar sua vida profissional não do zero, mas do 1.000 negativo. Se antes recorreu ao crime porque não tinha oportunidades, as chances são de 10 contra 1 de que ele acabará voltando a fazer isso por pura falta de opção.

Infelizmente o Estado mostra-se incapaz de dar uma educação decente até para as crianças que ainda estão nos bancos escolares, que se diria então de sua preocupação com a educação do detento? Se o descaso para com a educação tradicional já é uma realidade, a lacuna na educação dentro dos presídios salta aos olhos.

Educar e dar uma profissão deveriam ser as primeiras preocupações do Estado para reabilitar os membros da sociedade que um dia foram considerados inaptos para fazerem parte dela. Se não forem reintegrados à mesma assim que saírem da cadeia, muito em breve voltarão para o crime.

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Prisão agrícola

Uma vez um rapaz bateu à porta de minha casa à 1 da manhã para pedir um prato de comida. Meu marido disse a ele que não havia comida àquela hora e que fosse embora, e começaram a discutir. Num dado momento meu marido ameaçou-o dizendo que se não fosse embora chamaria a polícia.

Sua resposta deixou meu marido indignado, mas traduzia mais ou menos o que muitos presos pensam:

– Pode chamar, cadeia pra mim é hotel.

Assim como ele, muitos que lá estão não se incomodam em perder sua liberdade porque têm casa, comida e não precisam trabalhar nem pagar aluguel. Quem recorreu à vida criminosa dificilmente é alguém que goste de trabalhar e que sinta vergonha de lá estar. Muitos encaram o fato de estarem na cadeia como uma fase natural e passageira da vida, sem a menor importância.

O fato de estarem lá dentro não os faz pensar, já que sentem-se confortáveis. Lá dentro respeitam as leis da prisão mas quando saem a primeira coisa que fazem é desrespeitar as leis da sociedade. E respeitam as leis da prisão porque se não o fizerem sabem que o resultado não será nada confortável.

Acredito que o fato puro e simples de ficarem presos durante algum tempo não irá ressocializar a maioria deles, que voltarão ao crime assim que se virem novamente em liberdade. Creio que para haver uma total reabilitação o detento precisa de uma profissão e de sentir o prazer de ganhar seu próprio sustento sem ser de forma ilegal e sem ter que viver à margem da sociedade.

Também a prisão tem que ser um lugar para onde não queiram voltar. Já disse aqui que dentro da prisão a escola teria que ser obrigatória e suas penas não serem contadas em anos, mas em estágios dentro da escola. Também já disse que depois de preso a ficha criminal só poderia ser acessada pela polícia e Poder Judiciário, para a sociedade de modo geral ela apareceria limpa, uma vez que já pagou pelo que fez. Dessa forma ficaria realmente livre o detento para voltar a trabalhar sem ser discriminado por um dia ter cumprido pena.

Dentro da cadeia teria que trabalhar, e defendo uma prisão agrícola onde mesmo o detento com curso superior teria que dedicar no mínimo 8 horas de seu dia à lavoura e apresentar produção. Dessa forma poderiam produzir seu próprio sustento, e comeriam só o que produzissem, o que excedesse seria vendido a baixos preços na comunidade, para pessoas de baixa renda.

Imagino que dessa forma o detento sairia de lá não 100% reformado mas pelo menos com uma boa chance de ter também a opção de uma vida dentro da lei.

Leia também: A penitenciária-escola

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