A Justiça determinou nesta quarta-feira o bloqueio de dinheiro, ativos financeiros e de todos os bens dos ex-governadores Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho, do ex-secretário de Saúde Gilson Cantarino e mais trinta réus (entre pessoas físicas e jurídicas). Todos foram acusados pela Operação Pecado Capital , que apura o desvio de R$ 70 milhões dos cofres da Secretaria de Saúde. A liminar foi determinada pela juíza Maria Paula Gouvêa Galhardo, da 4ª Vara de Fazenda Pública.( Entenda como funcionava o esquema )
Também nesta quarta-feira, a Justiça negou os pedidos de habeas corpus para Cantarino e Marco Antônio Lúcidi, ex-secretário de Trabalho e Renda. Os advogados deles entraram com o pedido na noite de terça-feira, durante o plantão judiciário, horas depois de Cantarino e Lúcidi serem presos. Depois que o desembargador Leandro Ribeiro da Silva indeferiu os pedidos, o processo foi distribuído para a 2ª Câmara Criminal da Capital, onde o desembargador relator Antônio José Carvalho vai analisar novamente os pedidos de habeas corpus.
Rosinha e Garotinho já tinham sido denunciados à Justiça por suposto ato de improbidade administrativa. Através de sua assessoria de imprensa, eles afirmaram, no entanto, que todos os seus atos foram feitos dentro da orientação legal e que, se houve prática de ilegalidade por qualquer dos acusados, que eles sejam punidos de acordo com a lei. Garotinho disse ainda que alertou aos órgãos públicos sobre o excesso de terceirização no governo.
De acordo com a juíza Maria Paula Gouvêa, o pedido do Ministério Público traz à tona farta prova documental, em que os suspeitos, mediante associação, cometeram fraude de licitações, com conseqüente contratação irregular de ONGs, cuja única participação era emprestar o nome e contas bancárias para o desvio de dinheiro público, revertido em favor dos acusados, quer a título pessoal ou para custeio de campanhas eleitorais.
Foi determinada também pela juíza a notificação de todos os envolvidos e expedição de ofícios à Corregedoria-Geral da Justiça do Rio, ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, do Maranhão e à Capitania dos Portos das circunscrições de Angra dos Reis e do Rio, assim como ao Detran e ao Denatram comunicando tal decisão.
Deflagrada na terça-feira, a operação do Ministério Público estadual e da delegacia fazendária prendeu 12 pessoas acusadas de desviar dinheiro dos cofres do estado entre dezembro de 2005 e fevereiro de 2007. Duas pessoas ainda estão foragidas. ( Veja fotos da Operação Pecado Capital )
Os acusados foram denunciados por crimes de formação de quadrilha, uso de documento falso, falsidade ideológica, dispensa indevida de licitação e peculato (crime praticado por funcionário público).
Como funcionava o esquema
De acordo com o MP, em 2005, a secretaria, na gestão de Cantarino, criou o Programa Saúde em Movimento, que previa a contratação de profissionais terceirizados e ações de saúde em comunidades pobres. A ONG Procefet, fundação criada para dar apoio à Cefet, foi contratada sem licitação e recebeu mais de R$ 200 milhões para cuidar do projeto.
A Procefet contratou duas outras ONGs: Alternativa Social e Projeto Filipenses. Elas repassaram o serviço para um total de 143 “mini-ongs” que recebiam, cada uma delas, valores sempre menores que R$ 100 mil, para fugir da fiscalização do Conselho de Controle de Atividades Financeiras do governo federal. Estas ONGs realizavam atividades de saúde itinerante pelo estado, como aplicação de flúor, testes de glaucoma, aferição de pressão e outras. No entanto, parte da verba ganhava outro destino antes de chegar aos dirigentes das entidades. ( Confira a lista de ONGs que integravam o esquema )
Na denúncia, o Ministério Público diz que o dinheiro foi gasto sem comprovação dos serviços. Segundo os promotores, os representantes das “mini-ongs” sacavam o dinheiro na boca do caixa, sempre em uma mesma agência bancária do Itaú, na rua da Passagem, em Botafogo, e saíam com as notas escondidas por baixo da roupa.
Os integrantes das pequenas entidades, cerca de 40% delas igrejas evangélicas, dizem ficar apenas com parte (menos de 10%) do dinheiro sacado no banco com a coordenação de policiais militares. O serviço prestado pelas “mini-ongs”, revela o MP, jamais foi prestado pelo estado.
De acordo com a denúncia, várias das ONGs envolvidas no esquema são fantasmas. Os promotores informaram também que conseguiram recuperar os cheques usados pela quadrilha para trocar por dinheiro vivo na agência bancária.
Os desvios de recursos da saúde não paravam no esquema de “mini-ongs”. De acordo com os promotores, outros R$ 8,8 milhões do projeto foram usados para pagar a empresas e cooperativas, todas ligadas aos representantes da Pro-Cefet, por serviços de consultoria que nunca foram prestados.
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